quinta-feira, 7 de abril de 2016

Adeus à prosódia




O título deste artigo era mais longo (Adeus à prosódia: uma análise da leitura do relatório do Deputado Jovair Arantes), mas plataformas como o blogger não são muito, digamos, "amistosas", quando tentamos ampliar um título ao extremo.

Para além do mérito do relatório, sobre o qual não me pronunciariei por ora, causou-me espécie o modo pelo qual foi lido. Tínhamos, ao microfone, moderna versão do púlpito de outrora, um Deputado Federal. Em geral, o que se espera de alguém que atua em esfera federal em nível tão elevado, é de que seja minimamente alfabetizado. Contudo, o que vimos na leitura do Sr. Jovair foi uma demonstração cabal da falta de conhecimento da língua portuguesa, mormente da pausa, da acentuação, do ritmo da frase, da prosódia em sentido amplo. Poder-se-ia dizer que sua leitura está no nível de um leitor de terceria ou quarta série do primário: cheia de vacilações, pausas indevidas, cavalgamentos, desrespeito à sintaxe, enfim, um lixo do ponto de vista estético e, pior, do pensamento.

Jovair (que nome é esse, meu Deus?) lia como se não houvesse vírgulas ou pontos. Emendava uma frase com outra como se fossem ambas a mesma coisa. A compreensão, para quem estava do lado de cá do plenário, era mínima. É claro que sempre haverá alguém para dizer que pior teria sido a leitura de um Tiririca, mas essa espécie de argumento é desprezível por si só, pois, em última análise, contenta-se com a mediocridade e é conivente com ela.

Talvez como orador, sem o texto escrito, Jovair saia-se melhor, mas eu duvido. Seria uma exceção à regra, que é a seguinte: se você não sabe ler, não saberá juntar períodos, frases, e deles fazer uma unidade de sentido também no campo da oralidade. Seu texto falado ou escrito, e por extensão, seu mundo mental será caótico, e é realmente o quadro da dor expor-se à leitura em voz alta em tais circunstâncias.

Importante ressaltar que li algumas páginas do relatório, aleatoriamente, e percebi que está bem escrito do ponto de vista da sintaxe e do ritmo da frase, o que só corrobora a idéia de que um porco nada sabe fazer com pérolas.

Prosodicamente,
Dom Ciffero Barbosa

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