segunda-feira, 3 de março de 2014

Ave, Ciffero!



Em outros tempos, quando havia ainda alguma harmonia entre os humanos, especialmente na blôgo-esfera colorada, Ciffero de Parvalho vagava pelo éter de toda uma diversidade de blôgos, a todos iluminando com sua sabedoria e eterna paciência, esta, não raro, transmutada em misericórdia e bondade, nunca em condescendência e desprezo, com o fulcro bem profundo de introduzir em mentes em formação o longo bastão educacional pelo qual é conhecido.

Certa feita, em momento posterior à ruptura com alguns aprendizes do idioma de Camões, mais precisamente em um desses blôgos encarnados que integram o Hades da blôgo-esfera vermelha onde desprendidamente lecionava não só o uso correto da língua, mas princípios de Psiquiatria e Direito, deixou-se Ciffero conduzir a mundo menos abafado pela rubra ignorância, e passou a emitir, a partir desse mundo, sinais ainda mais claros de luz e tolerância. Trata-se, especificamente, da estada do nobre Presidente Eterno no sítio de um senhor mui sábio, ainda que humano e, portanto, não deífico como Zeus e o próprio Ciffero, de nome Henzo. 

Aparentemente de origem japonesa, e com uma certa fixação em irmãs católicas e suas interioridades carmesins, Henzo revelou-se um bom estalajadeiro, além de razoável conhecedor do idioma luso, razão pela qual Ciffero passou a honrá-lo com sua própria pre-sença e texto nas páginas de seu sítio, Ruque-Raque, hoje suspenso. Foi de Henzo, ou Henze, a percepção de que Ciffero não só primava pela humildade e sapiência, mas sobretudo pela perspicácia na leitura da alma humana, o que levou o nobre blogueiro nipônico, hoje aposentado no Vermont, a chamá-lo, uma ou outra vez, de “Hannibal Lecter”.

Em princípio, por sua meridiana sabença e humílima personalidade, Ciffero não refutou o epíteto, ainda que o primeiro dos nomes nele presente, apesar de remeter ao nobre guerreiro cartaginês, indicasse, de maneira imediata para as mentes menos esclarecidas (que são, enfim e infelizmente, a maioria neste mundo) a semelhança com a palavra “canibal”, da qual Ciffero não podia se aproximar, pois sua antropofagia não era sequer oswaldiana, quanto mais a da película norte-americana de onde advinha o codinome que popularizara o anti-herói de Thomas Harris. “Lecter” (ou “Lecktor”, em sua derivação mais próxima do termo latino “Lector”), por sua vez, é nome de fato simpático a todo homem de boa vontade afeto aos livros, como é o caso de Ciffero, um dos maiores leitores já produzidos pela humanidade em cruzamento com o divino. Assim, novamente demonstrando humildade exemplar é que Ciffero integrou a alcunha “Lecter” a seu nome.

Mas sobre seu nome, digamos, de batismo, o que teria Ciffero a dizer? Ora, preliminarmente, cumpre esclarecer que é meramente casuística a parecença física que prepondera entre CdP e alguns presidentes do Sport Club Internacional. Não fôra o genitivo em certa medida histriônico, o nome, em si, pouco diz. Poderia ser qualquer outro, mas, nascido já Presidente da Humanidade, e colorado, os deuses deram-lhe nome que lembrasse geração vitoriosa no clube, abstraídos, é claro, os aspectos pessoais (idiossincráticos) e de formação intelectual, na qual, diga-se, Ciffero é peculiar e conhecido pela indefectibilidade. Em resumo, o caráter de Ciffero em nada se aproxima de qualquer antigo Presidente do Clube do Povo, o que resta comprovado principalmente por sua cultura (em muito superior a de qualquer dirigente futebolístico do País ou do mundo), pelo seu desprendimento (quando presidentes ordinários somente pensam em empreendimento) e por sua benevolência universal (enquanto presidentes de clube pensam em geral em benevolência planejada, local e lucrativa). Repitamos: não há nada em comum entre Ele (o “e” maiúsculo indica o traço soteriológico de Ciffero, que em muitos aspectos irmana-se ao Cristo) e antigos presidentes do Clube do Povo. Ademais, Ciffero é, como ninguém, Presidente Eterno, ao passo que os demais presidentes foram e são como nuvem passageira.

Feito esse necessário exórdio, parece-nos pertinente acrescentar, por fim, que o Sport Club Internacional é, em última análise, o objeto deste blôgo, no qual será visto e analisado criticamente, a partir do futebol, porém com os devidos desdobramentos e respingos críticos no âmbito administrativo. Sejamos, porém, otimistas: apesar dos mandos e desmandos dos últimos anos, e da condução do clube por diretores ainda verdes e ligeiramente timoratos, o clube permanece firme entre os grandes do futebol brasileiro, cumprindo o seu dever-ser. Não obstante, não podemos ignorar que houve, e há, tropeços nessa esfera deontológica, os quais precisam logo ser solucionados, razão pela qual Ciffero deve, mais do que nunca, ser escutado. Percebam: o mundo se enriquece quando Ciffero é ouvido. Ave, Ciffero!