quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ode aos asnos



Que os asnos pululam pelo País e, extensivamente, pela blogosfera colorada, todos sabemos.

Asnos de cabeça exata, centrados em números, levam sua condição de asno ao paroxismo, apesar da instrução formal recebida: costumam acreditar no fetiche quantitativo de estimativas e, não raro, quebram a cara, como no caso da recentíssima eleição de Trump. Ainda assim, preferem o fetiche dos números ao bom senso. Ora, se os números são assim tão precisos, como pode o erro não ter sido detectado?

É claro que o pensamento tacanho logo virá dizer que as pesquisas norte-americanas estavam todas contaminadas pelo interesse político contrário a Trump. Esse argumento é desonesto por princípio, já que os mesmos pensadores tacanhos, os ingênuos que levam Olavo de Carvalho ao pé da letra, sempre fazem uso de qualquer fato ocorrido no além-México como modelo e epítome do que há de mais nobre sobre a Terra. Por que não o fazem agora? Por que não louvam os números das pesquisas da pátria amada americana?

O, digamos, "discurso numérico", é dizer, a crença mítica e obtusa na quantificação, e não na qualidade, é que logo descamba para a lógica da "engenheirização" do mundo, para a crença de que o ensino secundário, por exemplo, deve ser eminentemente técnico e de que todos devem ser preparados para o mercado de trabalho, esse lugar tão belo, tão humano e isento de exploração do homem pelo homem. Pensar intransitivamente, para os asnos, é secundário, ato de vagabundo, no mau sentido do termo.

Nesse contexto, é claro, os epígonos do pensamento técnico contam e muito com o apoio da turba sofredora, ou seja, dos trabalhadores honestos carentes de pensamento refinado, é dizer, dos humanos reduzidos a gado pelas maravilhas do sistemão. O sujeito nasce pobre e ascende pelo seu próprio esforço, pelo trabalho braçal e sem muito esforço intelectual além daquele necessário a saber fazer um bom negócio. Como exigir desse sujeito, senão com o auxílio da filosofia, algo diferente de pensar que todos devem fazer o mesmo que ele, se ele mesmo não tem ferramentas intelectuais para pensar o outro além de seu curto horizonte de expectativas?

É por isso que as Ciências Humanas não penetram a mente da horda. Eles estão completamente cegos e conformados em ser e agir conforme a lógica da mais estrita alienação, sem saber, é claro, que vivem alienados.

Em resumo, o pensamento técnico é muito bom para a construção de pontes e edifícios, mas, para os destinos da humanidade, é apenas uma seta rumo à robotização acéfala. Enquanto um deus humano, como Dom Ciffero, não estiver com os poderes na mão, não haverá salvação. Acreditai.

Aleluiamente,
Dom Ciffero

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